FIGURAS DO FUTURO: OS LÍDERES DE
AMANHÃ
ANGOLA É O ÚNICO PAÍS QUE GANHA A
COMPRAR E NÃO A VENDER
A pátria angolana corre perigo, é
urgente dar voz ao sentimento de revolta dos angolanos que vão lutar pela
possibilidade de escolher seus governantes, a apresentação de listas nominais
de cidadãos nas eleições autárquicas que o partido no poder muito teme. Teme, pois,
sabe que vai perder nas cidades mais importantes, nomeadamente Luanda e
Benguela, Lobito e Huambo. Por conseguinte, recusa-se peremptoriamente a marcar
uma data definitiva para a realização das mesmas.
José Eduardo dos Santos esquece uma coisa
primordial: num momento como este, para lá do que faça no silêncio dos
gabinetes, o presidente não pode estar ou parecer ausente – tem de ser a voz
dos que não têm voz, ou que tendo voz o governo não ouve; tem de ser um visível
símbolo da unidade e da Independência Nacional, de algum modo ameaçadas, e um
factor de esperança para os angolanos de Angola, cada vez mais sem ela e sem
perspectivas de futuro. E é de clareza meridiana que não o está a ser. Por
isso, dado o papel decisivo do presidente da República, em particular nos momentos
mais difíceis, só posso desejar que passe a intervir de forma diferente e a representar para todos os angolanos de
Angola o que neste momento não representa.
O poder, pode. Mas não deve. E, como se ouve nas ruas
e confirmada pelas sondagens, estão à vista os resultados, com o consequente
prejuízo para ele e para o País.
Pode um presidente da República, num momento de crise
muito grave e de uma generalizadíssima insatisfação, desesperança e indignação
dos angolanos de Angola face à situação que vivem a quem os governa, estar
demissionário, ausente e insensível? E, em muitos casos, as próprias
instituições do Estado limitarem-se a desempenhar as suas altas funções
exercendo intrigas e influências no segredo dos gabinetes, em encontros com altas
personagens do partido da situação, membros do executivo e dos vários poderes,
nos bastidores - acrescentando-lhes declarações públicas informais e
ocasionais? Ninguém fala verdade! No partido da situação e no governo todos
mentem! O país bateu no fundo do poço.
Os angolanos de Angola estão num processo de mudança
de mentalidade. O limbo está a desaparecer e a violência da situação a promover
talvez num novo modo de expansão das suas forças.
É notório e visível a olho nu a desorientação, a
confusão a sideração dos angolanos de Angola.
Abandonaram o queixume e aprenderam a protestar.
Daí as manifestações constantes. Desinvestiram em
símbolos políticos, palavras de ordem cada vez menos codificadas. Basta estarem
lá, afirmando-se pela pura presença contra quem os anula e quer fazer
desaparecer. Forças desinvestidas pacíficas, soltas, não codificadas e não
canalizadas por ideologias e partidos. Anular uma manifestação é impedir a sua
realização no real. A não realização forçada de acção que visa precisamente
inscrever-se viola violentamente a democracia.
Como se sabe, um dos meios que o governo do M.P.L.A adoptou para desencorajar e
reduzir a zero as manifestações, no entender deles, hostis, é raptar e fazer
desaparecer, matar a sangue frio os manifestantes mais aguerridos. Fazer como
se nada tivesse acontecido é fazer acontecer. É o que o governo tem vindo a
fazer através das suas polícias e seus bufos (ambiente completamente infestado),
com as sucessivas manifestações.
Mas já não é possível fazer parar. Cada vez mais, os
seus cálculos estão a sair errados.
Da violência sofrida brota, em geral, violência. Quem
poderá garantir que destas forças soltas a violência nua não jorrará?
Jornal ChelaPress
Francisco Rasgado