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O FENACULT FOI UMA CATÁSTROFE



Onde ficaram os símbolos do Fenacult do Boaventura Cardoso?
O hino de Filipe Zau, “Eu Vou Voltar”, do álbum Reunir de Teta Lando, o “Man Polé” de Mito Gaspar, o Elinga Teatro e outros para estabelecimento do “link” entre um e outro.

O Ministério da Cultura liderado por Rosa Silva parece o Sporting ou o Benfica de épocas passadas: todos os dias alguém (funcionários, dirigentes e jogadores) ia embora. A saída de Luís Kandjimbo e a desmoralização de muitos quadros da cultura foram fulcrais, pois oficializaram o desnorte que tomou conta do Ministério da Cultura, que não resistiu a duas catástrofes: o esgotamento das causas fracturantes que lhe deram visibilidade e os afastamentos e desanimação de alguns dos seus quadros carismáticos.

Neste momento, a cultura que reina no Ministério da Cultura é quase assustadora: é uma espécie de “Tea Party” angolano.

O jornal ChelaPress, desde há muito tempo, tem chamado a atenção para um dos aspectos da crise da cultura que se agrava com o tempo e as medidas tomadas naquilo a que se chama os anos piores “já passaram”. Não há mentira mais abominável do que “o pior já passou” apenas porque alguns números desgarrados sobre o estado da cultura de Angola, que nem sequer chegam para fazer uma série consistente, melhoraram. O que acontece é que em cada ano que passa, sobretudo depois da nomeação de Rosa Silva, a Ministra da Cultura, os principais pilares da cultura de Angola foram regredindo, deixados para trás pelo embandeirar em arco e pela perda de atenção da comunicação social, que não encontra novidades no consulado de Rosa Silva.

Rosa Silva, uma excelente especialista em matéria de cultura, esposa do querido Leonel Silva, secretário de Estado do Tesouro, deixou-se apoderar pela cultura do medo, ou seja, tem receio de ser conotada pelo seu passado político. Evita tudo e todos que poderiam ajudá-la.

Angola é um espaço geográfico aleatoriamente definido pela carta de Berlim, que compreende vários povos com cultura e costumes bem definidos. É imperioso respeita-los.

Cultura é um acto de cidadania que se faz todos os dias e não de quatro em quatro anos. Angola é um país uno, mas multicultural.

A cultura Tchokwé, a cultura Bakongo, a cultura Ovimbumdo, a cultura Kimbundo, a cultura Kwanhama e outras culturas, embora algumas delas pertencentes ao mesmo tronco, têm que ser exercitadas todos os dias com a criação de escolas, exposições, promoção e divulgação.

Cada povo tem sua cultura que deve ser animada todos os dias e não somente nas datas e acontecimentos festivos alusivos ao país, ao presidente da República, visitas estrangeiras e festivais nacionais e internacionais realizados ao prazer de quem manda.

Por falta supostamente de cultura e imaginação transformou o Festival Nacional da Cultura num festival de pirotecnia, numa amostra das novas modernidades em termos de luzes e leds.

Para muitos agentes culturais, escritores, músicos, pintores, escultores, homens de teatro e bailarinos, o Fenacult – Festival Nacional da Cultura - foi um acontecimento trágico da cultura angolana.

Os agentes activos da cultura com muitas restrições ficaram apenas pelos corredores do centro de decisão, sem quaisquer possiblidades de transmitirem o seu saber e a sua cultura.

De 30 de Agosto a 20 de Setembro de 2014, período de duração do Fenacult, encontraram algum reflexo do programa gizado sem alma nas noticias que abriram os telejornais? Nada. As humilhantes derrotas, incumprimentos e as impraticabilidades de muitas actividades e contratos desonrados levaram a exposição pública de Rosa Silva. Não falemos do moribundo comboio da cultura ou da Canhoca, que durou uma eternidade para percorrer o trajecto Benguela / Moxico, onde os seus ocupantes (artistas em geral, pintores, músicos e bailarinos), por falta de organização e condições, foram abandonando o comboio à medida que ele se foi distanciando da cidade de partida.    

Estávamos todos angolanos de Angola convencidos de que o Fenacult – Festival Nacional da Cultura tinha virado tradição. Depois de 25 anos, desde o primeiro festival liderado por Boaventura Cardoso até o Fenacult do presente ano, animado por Rosa e Silva, assistimos a uma gritante ausência de cultura e um atabalhoado e desgarrado trabalho marcado pelo improviso, falta de direção e de esclarecimento real e avisado dos montantes monetários envolvidos para implementação da operação.

Nada bateu certo, assim como nada foi justificado.

Há quem diga que Rosa Silva, Ministra da Cultura, não tardará a voltar para casa e a andar por aí.


Mas, na opinião do ChelaPress, este é um ciclo que vai encerrar definitivamente a vida de Rosa Silva.

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