Birgit
Ramona Oehme
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O Rastafarianismo é uma religião afro-jamaicana, nasceu nos anos 30, mas teve a sua origem no processo de africanização da religião e cultura “Revival” na Jamaica no decorrer do século XIX.
Quando
a 2 de Novembro de 1930 o RAS
(soberano) TAFARI MAKONNAN (1892 –
1975) foi coroado “Rei dos Reis” e
adotou o nome de Haile Selessie, que
significa “Força da Trindade”, o
retrato do rei correu o mundo.
Os
primeiros profetas rastafáris ligaram o título Rei “Leão ganhador da Tribo de Júda” ao Apocalipse 22, 16, 5.5, 19 e 16,
sendo o próprio Deus preto confirmado através de Jeremias 8:21, e mais, segundo
a tradução da Bíblia na versão de King James, o Kush é denunciado como sendo a
Etiópia. Por esta razão Haile Selassie foi considerado o Deus Jah e
subsequentemente tomado como Jesus Cristo do nosso tempo.
Em Abril
de 1966, o imperador da Etiópia visitou a Jamaica. A sua visita foi
entusiasticamente festejada pelos seus discípulos Rastafaris ou Rasta (versão
curta) como se de Deus vivo se tratasse. Era o criador, o Deus-Pai Omnipotente Jah Rastafári, que não pode morrer e
por esta razão a morte de Haile Selassie
não criou o colapso dos Rastafáris.
Entretanto,
os acontecimentos sucedem-se. Marcus Garvey
(1887 – 1940) apareceu como reencarnação de João Baptista, apenas por ter profetizado em 1929: “Olhem para a África, quando eles coroarem
um rei preto, o dia da libertação chegará”.
Garvey, um descendente dos
Maroons, combatentes africanos pela libertação do século XVIII na Jamaica,
transmitiu nos anos 20, como líder do nacionalismo preto nos Estados Unidos da
América e como visionário do pan-africanismo – com a Etiópia como símbolo dos pretos
na América e África – uma nova consciência do seu valor. Além disso, Marcus Garvey chamou a atenção para
necessidade de se ter um engajamento mais activo para os seus próprios
interesses.
Adiantando
que na Bíblia a mentalidade africana e espiritualidade são a base da rastologia,
da doutrina do Rastafarianismo e que deve ser estudada frequentemente, mas
independente das tradições da exegese e da dogmatização. Por esta razão os
Rastafáris não reconhecem nenhuma organização de Igreja, mas sim grupos diferentes,
dos quais o acesso individual a Deus – às vezes fazendo-se com ajuda do consumo
de droga, a “ganzá” (cannabis
sativa) – é procurado através de meditação. Esta procura entende-se como um encontro
com Deus em nós próprios, como unificação com força do universo, chamada Força
Trindade.
A
correspondência é evidente com a experiência espiritual africana, quando o
acontecimento do “Eu e eu” para manifestarem a união eterna com Deus Jah - que
não é Deus transcendental, que promete um reino nos céus de além, mas existe
dentro de nós - razão pela qual o trato com a Bíblia só pode ser existencial.
Da
vida religiosa apenas fazem parte reuniões festivas – Natal e Ano Novo dia 7 de
Janeiro e 11 de Setembro respectivamente, o dia 23 de Julho, aniversário do
Imperador e o dia 2 de Novembro, o coroamento, nos quais se reza, canta, se
tocam batuques e se dança.
Assim
cresce o sentimento de ligação entre o homem e Deus Jah, designada com a “Força
da Trindade Santa”.
A
música do Deus Jah, designada de reggae, descobriu o mundo inteiro. Como seu
maior intérprete entende-se Bob Marley (1945 – 1981), às vezes visto também
como a reencarnação de Marcus Garvey.
O
reggae é a expressão da visão africana da salvação e da libertação dos verdadeiros
israelitas, dos Rastas contra a Babilónia terrível. A Babilónia é o Símbolo do
sistema corrupto da repressão branca e do pensamento racista. O objetivo dos
Rastafáris é o caminho do Zion terreno, a África.
Só a
mudança geral das relações sociais possibilitará o prevalecimento do amor de
Jah entre todos os homens, conforme musica de Bob Marley “Burn Down Babilon” (Queimar
completamente a Babilónia).
O
Rastafári é como um judaísmo, um caminho e uma realidade fora do resto do
mundo: “A holy/hola way of life” que significa “caminho santo da vida” ou
“caminho verdadeiro da vida”.
Do
judaísmo assumem-se os 10 mandamentos, sobretudo a proibição de corte do
cabelo, da barba, e o consumo do álcool. Os dread locks (tranças) dos Rastas
mais velhos, símbololizam o leão, símbolo de África.
As instruções
bíblicas em relação às mulheres menstruadas são respeitadas. Importantes são
também as instruções que proíbem o consumo e de répteis.
Quando
às comidas, criou-se uma cultura alimentar própria: “Ital-food”, que significa
uma alimentação vital e sancionada por Deus, basicamente vegetariana, não
química ou industrialmente trabalhada. A linguagem dos Rastas, “dread talk”,
tem características próprias que se desenvolveram a partir do inglês jamaicano
africanizado.
A
Rastalogia, o reggae, a cultura alimentar própria e a linguagem própria criaram
uma identidade cultural para os Rastafáris. Os Rastas conseguiram transmitir à
maioria dos jamaicanos (98% de origem africana) um nova consciência da sua
identidade africana.
Nos
últimos anos a criatividade conferiu-lhe um grande respeito, implicando não pôr
em causa a sua existência. Entretanto a igreja católica inglesa conheceu o
Rastafarianismo como religião, enquanto a igreja católica etiópia – ortodoxa
cultiva com ela um contacto muito próximo. Hoje o número de Rastas eleva-se em
alguns bons milhões de adeptos, estando os maiores grupos localizados fora das
Caraíbas, nomeadamente nos E.U.A., Canadá e Inglaterra.
Na
Jamaica, o Rastafarismo encontra partidários e entusiastas não só na classe
média, mas também no meio dos intelectuais.
O
reggae é muito admirado em todo em todo mundo, de África até ao Japão.
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