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O VOTO DE QUALIDADE É DE BENGUELA

POR QUE EM BENGUELA TUDO DÁ CERTO?


O voto de qualidade pertence aos benguelenses por razões políticas e históricas.

A história não se inventa, está feita por natureza, podendo, quanto muito, os acontecimentos serem interpretados de várias formas.

A cidade de S. Filipe de Benguela foi fundada a 17 de Maio de 1617, pelo insurrecto capitão Manuel Cerveira Pereira. A sua evolução e consolidação como tal, foi sempre tenebrosa, doentia, atropelada, desprezada e marcada por um forte clima de desconfiança. Três tentativas frustradas de transferência da sede do Governo Meridional (capital do sul) para Catumbela (sítio alto e sadio de terras frutíferas em mantimentos), redundaram em duas mortes e uma loucura.

Esquecida a ideia de troca dos lugares, a capital do sul manteve-se na zona pantanosa encaixada entre o rio Corinje e o Maribombo (Cavaco), que o sofrimento e a morte haviam de baptizar, mais tarde, com a designação arrepiante de “açougue humano”!

Foram momentos que facilitaram a transformação da costa de Benguela, num palco de disputa entre portugueses, corsários holandeses e ingleses, que se dedicavam à pirataria e saques de terras a beira-mar.

Ultrapassado que estava este tenebroso período do Reino de Benguela, independente do Reino de Luanda, voltou a ser vítima de uma guerra aberta, entre os reis de Portugal e de França. Foi destruída e pilhada por uma esquadra francesa, chefiada pelo Barão de Talier. Até a chegada do reforço português, a cidade mais uma vez, ficou durante algum tempo, entre os franceses e os homens do soba Mulundo do Dombe Grande. Os povos locais debatiam freneticamente, contra a ocupação portuguesa. A introdução da escravatura (com alguns focos e assaltos de povos legítimos desalojados pelo português colonizador), consumou-se a ocupação e pacificação do Reino de Benguela.

Foi por temor à violência do colonialismo português, que os benguelenses, em tempos mais remotos do que os “maremotos”, prepararam-se para sua autodefesa. O Reino de Benguela, que já era o “mundo civilizado” independente e fortemente acossado pelos devaneios de Manuel Cerveira Pereira e seus detractores e, a cidade São Paulo de Assunção - Luanda, ocupada temporariamente pelo colonialista holandês.  

Só no final do século XIX e XX, Benguela começou de facto a emergir. As lutas intestinais, que não são de hoje, desde os ancestrais, foram sempre constantes e amargas. Com a sua reestruturação, o Senado Municipal criado, transformou-se no maior símbolo de prosperidade comercial – a Meca dos negociantes e Cidade Mãe de Cidades. O plano de urbanização de Benguela, iniciado em 1948, determinou o grande bum da indústria pesqueira.     O comércio estabilizado e a agricultura em florescimento (graças ao aproveitamento racional do Vale do Cavaco), foi uma realidade incontestável.

As demonstrações de carácter cultural e social, são das mais desvanecedoras e honram a cidade de Benguela.

A civilização benguelense, criada no calor de um processo permanente de luta contra a ocupação colonial, fez brotar, pela primeira vez, em solo pátrio, a imprensa escrita e falada, a televisão em circuito fechado que, por sua vez, permitiu a formação e o reconhecimento da intelectualidade angolana em Benguela.  Esta mesma intelectualidade, formada por elementos de vários quadrantes: benguelenses, portugueses, luandenses, huambos, Kwanza-nortenhos e outros. Fixaram-se em Benguela: Gastão Vinagre, Ralph Delgado, Américo Centeno, Trancoso Vaz, Sebastião das Neves, António Borrego, Eurico Lopes de Almeida, Mário Alcântara Monteiro, Manuel de Mesquita, Orlando Albuquerque, Horácio Silva, Fausto Frazão, António Durães, Rui de Lima Pereira, Álvaro Bragança, Abel Augusto B. G. Bolota, Dascalos Sócrates, Fernando Falcão,  Manuel da Silva Martins, Adolfo Pina, Joaquim Pereira Branco, José Domingos Antunes, Manuel da Silva Antunes, Alfredo Guerra, Aires de Almeida Santos, Alda Lara, Sebastião Coelho, Domingos António Rasgado, Artur Pestana “Pepetela”, família Mangas, Raúl David, família Lima Neto, família Bragança, família Trindade Jordão, família Fastudo Rosa, família Honorato Fernandes, família Aurélio Assis, família Fançony, família Cohen, família Santos, família Benchimol, família Lopes Cordeiro, família Botelho Vasconcelos “Severino Pacassa”, família Asdrubal, muitos deles, sobretudo os descendentes coloniais, fizeram parte da maçonaria benguelense “os Kuribecas”. Por Benguela passaram: a família Boavida, José da Silva “Zé Calobigode”, pai da mãe de António Agostinho Neto, Oscar Ribas, Bernardo Octavio, Demostenes de Almeida, Hendrick, Mingas, Van-Dúnem, Vieira Dias, Filipe Amado e tantos outros.   

O bairrismo dos benguelenses é tradicional e a atestá-lo, está a monumental obra que é o aeroporto Venâncio Deslandes (Dokota), feito na sua maior parte a custa de donativos da população e de cortejos de oferendas, que constituíram a lição de civismo mais construtiva que se pode conceber.

Benguela é também tradicionalmente leal aos chefes, embora ciosa das suas reivindicações, apesar de ser considerada como a “cidade dos contras”. A atestá-lo chama-se o testemunho das recepções que tem feito aos governantes que têm visitado a cidade, com especial relevo para o que o povo espontaneamente dispensou o presidente do Império Português Américo Rodrigues Tomaz, a quem Benguela viu as lágrimas assomarem, na estação, na câmara, no palácio, uma manifestação que em Angola nunca foi superada. Só se iguala, nos tempos de hoje, ao ódio que Benguela nutre pelo Kundy Payhama.

Benguela tem estado sempre a servir de exemplo a toda Angola, a dar lições de civismo, bairrismo, persistência, paciência e desejo de progredir, a ostentar com galhardia e merecimento o título que a história lhe colocou no destino de Benguela – Cidade Mãe de Cidades.     
             
Caso raro, raríssimo: Angola no meio de um maremoto, mas o benguelense não para de crescer.

O maior desafio de todo país não desenvolvido, é um dia deixar de sê-lo. No decorrer do presente século, poucos são os países  africanos, que conseguiram divisar a linha que os separa das nações desenvolvidas.
Numa Angola que não se acha o caminho para o desenvolvimento, Benguela é a ovelha desgarrada que encontrou uma fórmula política de sucesso.

Em Angola, Benguela é a única província, que encontrou o caminho. A consciência política dos homens e das mulheres, sobretudo da juventude cresce a olhos nus, estabilidade que não se vê noutras províncias. Nesse período, a proporção dos benguelenses, que almejam a mudança de atitude política cresceu muito, enquanto nas restantes províncias, o número de desatentos permanece, em média, inalterado. Se mantiver esse ritmo de crescimento até as eleições de Agosto/Setembro de 2017, Benguela ditará as regras políticas em Angola. “O voto de qualidade é certo”!

A questão levantada pelos dados acima é a seguinte: a experiência benguelense pode servir de modelo para as províncias vizinhas, inclusive Luanda. A resposta: a história e os princípios básicos que norteiam o crescimento benguelense – urbanidade, democracia e a busca de acordos políticos com maior número possível de parceiros - são universais e servem muito bem para a unidade real, distribuição equitativa das riquezas (por todos angolanos sem excepção) e estabilidade política do país.

Agora, com as eleições as portas, os olhos estão postos no futuro. Benguela não pára, ironizando os “despachos” e “previsões daqueles que várias vezes, quiseram mudar ou extinguir e as profecias de quantos derrotistas ás vezes parecem a toldar o ambiente de uma evolução que necessita de crítica construtiva e necessita de repudiar a crítica destrutiva, gratuita e oportunista.

Benguela e Luanda são rivais e patenteiam essa rivalidade constantemente nas mais variadas polémicas. Duas cidades, tão próximas, uma da outra, que fazem lembrar o exemplo entre Lisboa e o Porto, entre tantas outras cidades!     
O voto de qualidade é de Benguela

Benguela – Cidade Mãe de Cidades, livro de consulta para questões históricas.


Francisco Rasgado / Chico Babalada

Jornal ChelaPress 

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