OS INVESTIMENTOS ANGOLANOS NO ESTRANGEIRO E OS MARIDOS QUE
COMEM FORA DE CASA
Começo com
uma declaração de interesses: sou, em princípio, defensor da livre circulação
de pessoas, bens e serviços e capitais no respeito pelas leis nacionais e
internacionais.
No final de
2015 os angolanos, leia-se residentes em Angola, detinham no exterior mais de
29,1 mil milhões USD, dos quais 21,2 mil milhões USD em investimentos directos,
ou seja em empresas (21,2 mil milhões USD) e 7,8 mil milhões em
investimentos de carteira, isto é em títulos.
Sendo eu
defensor da livre circulação de capitais não deveria ter reservas sobre os
investimentos de angolanos no estrangeiro. Mas tenho. Vou tentar explicar
porquê.
Em primeiro
lugar, em Angola há controlo de capitais. O kwanza não é convertível. Sendo os
rendimentos obtidos pelos angolanos em kwanzas, investimentos no estrangeiro
implicam a compra de divisas ao BNA. Como é que o BNA vende milhares de milhões
de USD e Euros para comprar empresas, casas e títulos no estrangeiro, quando
escasseiam as divisas para comida, medicamentos ou matérias-primas para a
produção nacional. Enquanto os angolanos têm quase 30 mil milhões USD lá fora,
as reservas de divisas do BNA pouco ultrapassam os 20 mil milhões USD.
Em segundo de
onde vieram os kwanzas para comprar as divisas para investir no estrangeiro? É
dinheiro limpo, pagou os impostos devidos?
Em terceiro
lugar, não é segredo para ninguém que a maioria dos nossos empresários,
nomeadamente os que estão a investir no estrangeiro, floresceu à conta do
Estado no âmbito do processo de acumulação primitiva do capital. Se o Estado
lhes deu dinheiro a ganhar devia exigir-lhes que os ganhos fossem investidos em
Angola e não no estrangeiro.
Em quinto
lugar, quando alguém investe no estrangeiro é porque espera retornos. O normal
é que esses retornos sejam transferidos para o país de origem. Se olharmos para
a balança de pagamentos angolana, constatamos que apesar dos angolanos terem 29
mil milhões USD no estrangeiro não entra um cêntimo em Angola a título de
rendimentos desses investimentos. Será que os investimentos angolanos no
estrangeiro dão todos prejuízos ou os angolanos deixam no estrangeiro os lucros
obtidos com esses investimentos?
Por último,
mas não menos importante, boa parte dos angolanos que investem no estrangeiro
não se cansam se elogiar as potencialidades de Angola e os feitos do Governo. Se
for assim, não passam de grandes hipócritas. Fazem-me lembrar dos maridos que
dizem que a comida em casa é fantástica, mas passam a vida a comer fora de
casa.
Carlos Rosado de Carvalho
Revista Expansão
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