O povo é mentido e continua a ser mentido. A memória histórica continua a estar presente. O crude (petróleo) angolano já foi vendido ao preço de USD 28,00 (Vinte e Oito Dólares Norte Americanos), o barril. Tínhamos guerra, fome e relativa organização. E, por força do medo imposto pela mortandade desencadeada pelo 27 de Maio, éramos todos patriotas. Muitos de nós sobrevivemos. Passados anos, o crude atingiu o seu melhor. Sem guerra, o que se fez com a grande acumulação? Onde estão as reservas monetárias do petróleo? Onde está o Fundo Soberano proveniente do petróleo para colmatar os buracos financeiros e sócio-económicos criados com a baixa do preço do petróleo?
Qualquer sociedade
adulta e educada sabe distinguir entre a democracia como meio e como fim.
Como meio
significa que é uma forma de governo do povo, destinada a fazê-lo atingir bens
comuns e legítimos: a liberdade de opinião, a igualdade de oportunidades, a
identidade, e aqueles valores que cada geração consagra ou deseja.
Como fim,
corre o risco de se transformar num mero procedimento burocrático, com
imposições e algemas, com leis herméticas e slogans.
Todos os
angolanos, particularmente os benguelenses, agora mais do que nunca (sobretudo
depois do que aconteceu com Isaac dos
Anjos, governador da Província de Benguela, por apenas ter manifestado a
sua opinião quanto a metodologia de um encontro sobre o eterno problema da
terra, foi amputado e obrigado a retratar-se), querem o bem comum, a República,
a ordem livre e justa.
No entanto, uma
maioria começa a formar a opinião de que esta pode atingir-se por outros meios,
que não esta democracia.
A parte
simples é evidente: como se vinha suspeitando de abstenções galopantes, falta
de entusiasmo face a classe dominante, deserção em massa do partido da situação,
o cidadão identifica democracia com isto que nos tem regido. Coloca no saco
democrático o B.E.S.A. – Banco Espírito Santo Angola e as tropelias de
políticos, ministros, futuros ministros, magistrados do Ministério Público e do
Judicial com complexo de estrela, o enriquecimento ilícito, a gestão pública ruinosa,
a falta de liberdade de expressão, patriotismo e transparência de muitos
putativos da Pátria.
Se a democracia
é isto, dizem os angolanos, não queremos. Deve haver melhor.
O problema
complexo é muito claro e, por conseguinte, perturba até os espíritos mais
fortes: Como uma relação laboral, uma relação familiar, uma relação política,
social, económica e cultural. Porém, a democracia exige vigilância, dedicação,
abnegação e carinho diários. Nada se deve tomar como garantida para sempre. Se
a democracia se transforma de governo essencial e prático, transparente e
eficaz, responsável, exemplar e próximo, em rotina de discursos vazios,
desfiles e manifestações de riqueza, então o divórcio está consumado.
Todos os
angolanos de Angola acreditam na democracia como melhor regime. O que significa
isso na prática?
Francisco Rasgado
Jornal ChelaPress
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