É A HORA INADIÁVEL DE SALVAR BENGUELA
BENGUELA SINÔNIMO DE ÁGUA, PRAGA
DE ESCORPIÕES, FOGO, EPIDEMIA E CÓLERA.
Cercar fileiras à volta do governo e arregaçar mangas,
rumo ao crescimento de Benguela.
Benguela mais uma vez voltou para si os holofotes,
vindo agora à ribalta com fogo no ferro. Sim, Benguela em fogo. O mais
expressivo ex-libris da cidade capital, queimou completamente e sem
possibilidade de reabilitação. O histórico edifício do Cabo Submarino, ex-escola
alemã, actualmente Direcção Provincial da Cultura, localizado nas traseiras das
instalações do governo provincial de Benguela, uma das várias obras conceituadas
criadas pela Inglaterra, no ano de 1889, ligando Londres à Cape Twan por via de um cabo submarino, que pouco tempo
depois dava a volta ao mundo. Um edifício que chegou desmontado à Benguela há
cento e tal anos, e aqui foi montado e há poucos anos a esta parte restaurado.
Agora, ardeu sob o olhar silêncio das autoridades e governantes de Benguela.
Várias razões sobre o acontecimento foram levantadas pelos céticos munícipes,
sendo a mais forte a hipótese de fogo posto, mas quem, com vista a
implementação posterior de um grande projecto imobiliário, um hotel da dimensão
do Epic Sana ou ainda a nova sede do governo de Benguela. Outra hipótese, mais
sensata, resume-se no facto de uma parte da cidade de Benguela ter permanecido
sem luz eléctrica durante quatro dias consecutivo. O regresso da luz com uma
carga superior a 220 volts ter provocado um curto circuito na instalação
eléctrica, facilitado pelas fortes chuvas que tem vindo a cair sobre Benguela e
subsequentemente no edifício.
Madeira seca e ferro compunham o edifício, mais os
adicionais, ingredientes bastantes para o incêndio do grande monumento
histórico, reabilitado em 2008. Na hora do incêndio que iniciou por volta das
cinco horas, tudo faltou: os meios técnicos e humanos, nomeadamente o telefone
que não atendia, os homens que não estavam disponíveis, o carro com água em
falta e mangueiras inadequadas para a dimensão da ocorrência. Prejuízos
materiais avultados incluindo a destruição de uma viatura.
Sejam quais forem às motivações, sabotagem ou não, não
obstante, as Acácias Rubras – Associação dos Naturais e Amigos da Província de
Benguela, quase um ano, desde a eleição dos novos corpos directivos, Junho de
2014, estar inoperante, sem timoneiro a vista, a sociedade civil está atenta e
muito preocupada. Nenhum outro projecto será permitido implementar neste privilegiado
espaço se não um complexo cultural com várias motivações. Não vai agora o mesmo
acontecer com aos benguelenses: acordaram um belo dia com o viveiro do cavaco,
de Benguela com tudo para implementação de um centro comercial. Brincadeira. A
sociedade civil interviu e os animadores recolheram as suas respectivas violas.
Tudo está a acontecer em Benguela, calamidade no
Lobito facilitada pela imprudência do seu administrador, dilúvio em Benguela
previsível pela falta de ponderação do governo, as doenças, as pragas de
escorpiões, resultantes das chuvas e, agora o fogo na instalação da Direcção
Provincial da Cultura. O que falta mais e o que fazer para contrariar tudo
isto? Recomendam-se mudanças com qualidade e experiências na composição do
executivo da província de Benguela, mais aproximação e participação da
sociedade, mais colectividade, mais solidariedade e melhor distribuição.
Todos estes acontecimentos têm vindo a impedir
sobremaneira o estancamento da sangria de popularidade do governo do M.P.L.A. e cobrar providência, acção e
reacção mais agressivas do mesmo, contra a avalanche de problemas que estão a
surgir no horizonte. Isaac dos Anjos tem
estado a sentir o cheiro a queimado. Teme, naturalmente, que o espectáculo de
ineficiência leve a sociedade a quebrar o cinema e desistir do protagonista do
show. Porém, calcula que a estabilidade depende do seu governo ultrapassar três
obstáculos até as eleições de 2017. A preocupação envolve assuntos que atingem
a população directamente. O maior de todos os riscos é a falta de distribuição:
uma baixa na qualidade de vida dos cidadãos, cada vez mais precária, vai gerar
mau humor. O segundo é a qualidade do executivo de Benguela, alguns
administradores municipais, vice-governadores e alguns directores péssimos: com
todos os vícios da má governação. O terceiro é a terra: convencido de que a
população anda desatenta, não sabe separar os interesses pessoais dos interesses
do Estado, a preocupação do governo é continuar a não assinar os contratos de
concessão de ocupação - direito de superfície a favor dos cidadãos a pretexto
de quê? De nada. Urbanizar é da competência da Direcção do Urbanismo,
Ordenamento do Território e Habitação. Compulsados os dados fornecidos pelo
organismo em causa o gestor principal só tem que dizer sim ou não e não manter os
processos congelados na sua gaveta.
Muitas vezes a formula do sucesso está no óbvio.
ENTÃO,
OU AGORA O NUNCA.
Francisco Rasgado
Jornal ChelaPress