ADEUS, RUI MANUEL TRINDADE JORDÃO
O melhor Jogador angolano de todos os tempos no
mundo colonial português e não só
Um angolano patriota a 100%. Morreu
completamente desiludido com o seu país.
Benguela vai fazer o seu tributo
Não sou
jornalista e mal sei escrever um artigo, mas não podia deixar de traçar umas
linhas em homenagem a uma pessoa na qual nutro um grande respeito e me inspirei
em termos de desporto mais propriamente no futebol tendo sido um dos meus ídolos. O meu sonho era chegar ao futebol
profissional em Portugal trilhando o caminho de Rui Jordão, pois que sonhar não é pecado.
Tanto
é assim que eu antes de ter ido viver para o Bié eu estava inscrito e treinava
na equipa de juvenis do Sporting Clube
de Benguela sob a direção de Teco
Moreira em 1970, na posição de médio esquerdo, quando o Rui e companheiros partiram para o
futebol profissional. Vi o meu sonho ir abaixo quando me mudei para o Bié,
quando lá cheguei não havia campeonatos na categoria de juvenis e muito menos
de juniores.
a)
VIDA
E OBRA – Algumas considerações.
De
seu nome próprio Rui Manuel Trindade Jordão
e para os mais chegados e de Benguela, “Rui
Pera”. As pessoas por vezes não se
dão conta o quanto os seus feitos influenciam ou influenciaram, inspirando
outras pessoas ou mesmo até gerações. Eu
não sei se Rui Jordão algum dia em
vida chegou a pensar nisso. Digo isso porque
éramos todos miúdos e jogávamos nos areais dos bairros Benfica, Chingoma, Fronteira,
Kamunda, Jingolote onde nasceu o finado Pepino
(RIP), no campo da Missão Católica da
Nazaré, no campo do Kateque ali próximo do mercado do Kassoco, etc. Ao sabermos
que Rui Jordão partiu para Portugal em 1970 e aos 17 anos de idade, todos nos
queríamos jogar como ele, imitávamos a maneira de ele estar em campo, fintar e
rematar como ele. Rui não partiu sozinho
para o Sport Lisboa Benfica, mas sim com outros dois companheiros de equipa, Alfredo Ranque Franque e Soares. Enquanto
Alfredo e Rui estudaram na Escola Industrial e Comercial de Benguela onde concluíram
os cursos industriais, Soares era do
Liceu tendo uma passagem pelo Colégio
Nuno Álvares do senhor Barbosa
ali para os lados do ex-bar Ferreira.
Havia
naquela cidade uma forma de viver e conviver entre as pessoas o espírito de
irmandade e proximidade e familiaridade tal, que mesmo sem lidarem no dia-dia,
mas as pessoas conheciam-se umas as outras.
Foi assim que conheci Rui Jordão na altura ele tinha ido a nossa casa,
ali no bairro Benfica, ter com o meu irmão mais velho, porque um grupo de jovens
amigos havia sido convidado para um almoço confraternização de jovens no “Bessa”, ou melhor, dito na Kamunda e a
concentração do grupo era la’ em nossa casa.
Ele ainda pegou no violão e tentou sacar algum som através de alguns acordes
que parecia conhecer. Agora entendo que ele tinha uma inclinação para as artes,
tendo depois do futebol licenciando-se em Belas Artes. Rui Jordão foi um dos expoentes máximos do
futebol angolano em Portugal do qual Benguela se orgulha e agradece pelo facto
de ter levado o nome da nossa cidade pelos quatro cantos desse planeta. Quem diria que aquele jovem que víamos a
jogar no campo do Portugal de Benguela ou nas quadras do Sporting de Benguela
ou dos campos de jogos Freddy Vaz do
ex-Benfica de Benguela, futebol de salão fosse chegar aonde chegou e encher os
desportistas de Benguela e não só, de orgulho.
A
custa dele tive direito a honras quando fui viver para o Bié, ex-Silva Porto, onde os meus amigos quando
souberam que eu era de Benguela, a primeira pergunta era se eu conhecia ou não Rui Jordão.
Quando me mudei para Malanje foi a mesma coisa, embora não com tanta
curiosidade como os bienos. Falar dessa
grande figura do desporto angolano e português numa hora como esta até me faltam
as palavras. Eu fui um grande fã dele e
ele foi o meu ídolo em termos de futebol eu era do Benfica inicialmente por
causa do Eusébio com ida do Jordão tornei-me benfiquista ao quadrado,
mas quando ele foi para o Sporting passei para o Sporting, tenho que confessar
muito honestamente. Quando ele deixou o
Sporting deixei de ter clube no futebol português.
B)-ALGUMAS LEMBRANCAS.
Em
Benguela era norma os atletas federados no defeso dos seus campeonatos distritais,
para não ficarem parados jogarem nas equipas dos bairros. É assim que Rui jogou pelo Bangú, uma equipa
formada por jovens dos bairros Benfica, Kassoco e Fronteira essencialmente. O
célebre jogo em que o Bangú venceu por 10-0 a uma equipa do Kasseque, onde Jordão e Pedro “Lumas/Kaindice”
que jogou no ARA da Gabela/Académica do
Lobito, partiram a “loiça”
toda. Era uma dupla temível de jogadores
velozes e com um poder de remate fora do vulgar. O Rui esteve
na mira do Ara da Gabela se não
fosse para Portugal provavelmente teria ido para Gabela. A julgar pelo os
emissários ou olheiros daquele clube do Amboim que de propósito vieram a Benguela
para observar o Rui.
E
os torneios quadrangulares da Mocidade
Portuguesa em futebol de onze entre O Liceu,
Escola Industrial, Ciclo Preparatório e Colégio Nuno Álvares. A Escola
Industrial com a sua “coqueluche”
Rui Jordão, Correia (guarda-redes), amigo e companheiro de equipa no Sporting
de Benguela e tantos outros.
E
a motorizada de marca Fabimor quando
ela passava pelo Bairro Benfica com a régua T e a prancheta para ir para aulas
na Escola Industrial de Benguela, lembra-me como se fosse hoje ele a passar frente
à casa da irmã “pula” do mais velho António
Kanhanga muito amigo do tio Higino.
As
tardes depois das aulas no Palanca bar jogando matraquilhos com os filhos do senhor
Vidal. Até nos matraquilhos ele jogava bem.
O
jogo contra a Juventude Huilana no
campo do Portugal em que o treinador do Sporting
de Benguela, o Martinez, tal
como no Huambo trocou a camisola do Rui
para confundir o adversário. Eles não
conheciam o atleta, mas sabiam que ele usava a camisola número X. Então o treinador mudou-lhe de camisola com outro
número diferente. O adversário marcou jogador
errado. Quando se deram conta disso já o
Rui tinha marcado uns tantos golos.
Quando descobriram era tarde.
As
farras no salão do senhor Luís “Marreco”
na Fronteira junto a linha férrea do CFB?
E algumas organizadas pela malta Tuku, com Nando Honorato (RIP), Pinga
(RIP), Nino Ezequias, João Moreira (RIP), José Brandão, Xico “Montenegro”, Pinguínha
e tantos outros.
Lembro-me
do jogo de despedida deles (Rui e o Alfredo) no campo da Missão Católica da Nossa Senhora da Nazaré com
os amigos mais próximos e colegas de equipa tais como Arão, Valongo, Luís Santos “Kananga” e tantos outros que não me lembro neste momento…
Quando
o Malta da Silva veio de férias a
Benguela e dá aquela célebre entrevista ao semanário Sul, onde ele afirmara, Shéu é bom, mas Jordão é “craque” o que significa muito bom.
A Mini
Copa do Brasil, onde num dos jogos a caminho do estádio Maracanã e já no autocarro, deram conta que o Rui tinha esquecido as chuteiras no
hotel.
E aquele
golo que calou o Parque dos Príncipes? “La
solitude de Jordão” diziam os críticos franceses numa crónica numa revista
dedicada ao desporto, porque Portugal jogou num sistema de 4-5-1 deixando Jordão como ponta de lança lá a frente
e sozinho.
Estas
são algumas das recordações que devo enumerar da mocidade desta grande figura
que para muito de nós jovens dos bairros periféricos de Benguela naquele tempo,
serviu de modelo e influenciou muito de nós nas nossas carreiras desportivas e
até mesmo académica. Estava eu a tomar o pequeno almoço quando ligo a Radio 5 e deparei-me com a notícia do infausto
acontecimento, confesso que não quis acreditar o que tinha acabado de ouvir.
Fui a correr para a sala, liguei o televisor e para confirmar a notícia através
da RTP. Só tive que me conformar com
a triste noticia.
Adeus
nosso kota, nosso ídolo do Sporting de
Benguela e do Bangú e que encheu
de orgulho a todos os benguelenses em particular e angolanos em geral. Fostes acima de tudo uma referência com a
devida vénia.
Rui
que a tua alma descanse em paz, e para família Jordão as minhas mais sentidas condolências em meu nome pessoal e
da minha família.
Por: Sacramento Neto (Janito)
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